Aventure-se com contos e crônicas inspiradores que tocam o coração
Mergulhe em um mundo de fantasia e encanto com nossa coleção de contos e crônicas envolventes
Histórias inesquecíveis para emocionar você e toda a sua família!
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Contos e Crônicas

1

Conto de transformação moral
Havia um grupo de senhoras que se reunia mensalmente para um encontro denominado “colocar a conversa em dia”.
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Nesse dia especial, todas compareciam elegantemente vestidas, cada uma buscando atrair mais atenção do que a outra. Era uma reunião marcada pela fofoca, protagonizada por pessoas vazias e interesseiras.
Em uma dessas reuniões, decidiram todas usar colares de pérolas. No entanto, o que começou como um momento de ostentação, logo se transformou em algo inusitado. Naquele dia, estavam todas adornadas com colares idênticos, e, após exibirem suas aquisições e os valores pagos por elas, a conversa se desviou para assuntos fúteis e desprovidos de significado. Discutiam sobre compras, traições e falavam mal das pessoas que não gostavam, perpetuando um ciclo prejudicial.
Foi nesse contexto que os colares, incapazes de suportar a conversa mesquinha, egoísta e desprovida de valor, começaram a esticar seus fios até que, finalmente, arrebentaram. Em um rodopiar frenético, as pérolas se libertaram e voaram para longe, cada uma encontrando seu destino em uma região distante.
À medida que o tempo passava, as pérolas solitárias sentiram a necessidade de se unir novamente, pois sabiam que eram parte de algo maior. Foi assim que cada uma delas, nutrindo o desejo de pertencimento, começou a procurar por pérolas semelhantes. Uma a uma, foram se reunindo com aquelas que vibravam na mesma sintonia, como notas harmoniosas em um belo musical. Juntas, formaram novos colares, até que um dia, esses fios de pérolas, pulsando com vibrações que até então estavam ocultas, se entrelaçaram com outros, formando um único e esplêndido fio.
Agora, esses colares de pérolas dançavam em céu aberto, irradiando forças magnéticas benevolentes por todo o planeta. As mulheres, ao compreenderem o que havia ocorrido e suas razões, decidiram mudar seus comportamentos. Em vez de se reunirem para fofocar, passaram a se encontrar para estudar, vibrar positivamente e amar incondicionalmente a tudo e a todos.
Elas perceberam que o verdadeiro caminho para uma vida plena e feliz consistia em crescer conscientemente. Entenderam que, ao se unirem como as pérolas, podiam formar comunidades com propósitos comuns, visando sempre fazer o melhor.
Compreenderam que, em meio à efemeridade da vida, o essencial era cultivar relações significativas e contribuir para um mundo melhor.
No dia marcado para a próxima reunião, as mulheres se encontraram novamente, mas desta vez em um ambiente diferente. O salão de fofocas e críticas tinha dado lugar a um espaço de aprendizado e compreensão. Sentadas em círculo, elas compartilhavam histórias inspiradoras, trocavam conhecimentos e se apoiavam mutuamente.
Ao redor do pescoço, cada uma usava um colar de pérolas que não apenas simbolizava sua jornada individual, mas também a união coletiva em busca de algo mais elevado. Naquele momento, elas perceberam que a verdadeira essência de suas vidas pulsava através dessa conexão, uma vibração de conhecimentos que estavam latentes em seus seres.
Cada pérola, antes solitária e distante, agora fazia parte de um fio único e esplêndido. Os retratos internos que carregavam em seus corações tornaram-se fontes de luz que iluminavam o caminho umas das outras. A mudança na atmosfera era perceptível, refletindo uma melhora no entendimento mútuo e na transformação moral que haviam experimentado.
Ao compartilharem suas experiências, as mulheres perceberam que estavam trilhando o caminho certo. Essa caminhada não era apenas sobre elas mesmas, mas sobre o coletivo. Elas entendiam que, ao crescerem conscientemente, estavam contribuindo para algo maior do que qualquer fofoca, reclamação ou crítica superficial poderia oferecer.
Dessa forma, a reunião tornou-se uma celebração da amizade, do conhecimento compartilhado e do compromisso de seguir em frente, juntas, na busca por uma vida mais plena e significativa. O colar de pérolas tornou-se não apenas um adorno, mas um símbolo duradouro de uma jornada de transformação moral e crescimento mútuo. 

2

Terra, o pulsar da vida
Sob nossos pés, a Terra respira. Seu coração bate em sincronia com o ritmo da criação, mas nós, distraídos pelo ruído do cotidiano, esquecemos de ouvi-la.
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A cada amanhecer, ela nos oferece um espetáculo gratuito de luz e cor, mas estamos sempre apressados demais para assistir.
Somos filhos da Terra, mas agimos como estranhos. Extraímos, poluímos, rasgamos suas entranhas em nome do progresso. Esquecemos que ela não é apenas um recurso; é um lar. Um lar que sente, que clama, que sofre.
A Terra é mãe. Suas florestas, pulmões que purificam o ar, seu solo, ventre que nutre e gera vida. E como qualquer mãe, ela nos dá sem pedir nada em troca. Mas até mesmo a mais generosa das mães tem seus limites.
Talvez, em silêncio, ela nos perdoe, esperando que despertemos. Mas esse tempo não é infinito. As águas que antes corriam límpidas agora carregam lágrimas. O ar que nos envolvia em abraços suaves agora traz um alerta sufocante.
A solução não está em grandes revoluções tecnológicas, mas em pequenas revoluções internas. Está no momento em que olhamos para uma árvore e reconhecemos sua grandeza. No instante em que deixamos de apenas existir sobre a Terra e passamos a coexistir com ela.
A Terra não precisa de nós para sobreviver. Nós é que precisamos dela. No final, somos apenas um fio na grande tapeçaria da vida, mas um fio essencial. Se o cortarmos, a harmonia se desmancha.
Então, talvez, o maior presente que possamos dar à Terra seja a gratidão. O ato simples de caminhar descalços em sua superfície, de respirar fundo e dizer: "Eu vejo você. Eu te reconheço. Gratidão!"
Porque quando cuidamos da Terra, cuidamos de nós mesmos. Afinal, seu pulsar é também o nosso.

3

Diálogo entre o Natal e o Ano Novo
Era uma noite fria e estrelada, e o Natal estava se preparando para se despedir do mundo. Ele tinha trazido muita alegria e esperança para as pessoas, mas sabia que seu tempo estava acabando.
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Ele olhou para o céu e viu uma estrela brilhante se aproximando. Era o Ano Novo, que vinha para tomar o seu lugar.
─ Olá, Natal ─ disse o Ano Novo, pousando ao seu lado. ─ Como você está se sentindo?
─ Olá, Ano Novo ─ respondeu o Natal, com um sorriso triste. ─ Estou feliz por ter cumprido a minha missão, mas também um pouco triste por ter que ir embora.
─ Eu entendo ─ disse o Ano Novo, com compreensão. ─ Você fez um ótimo trabalho, e as pessoas vão sentir a sua falta. Mas você sabe que tudo tem um fim, e que um novo ciclo está prestes a começar.
─ Sim, eu sei ─ disse o Natal, suspirando. ─ E eu espero que você faça um bom trabalho também. Você tem uma grande responsabilidade, Ano Novo. Você vai trazer novas oportunidades, desafios e mudanças para o mundo. Você vai inspirar as pessoas a sonhar, a se renovar, a se transformar.
─ Obrigado, Natal ─ disse o Ano Novo, agradecido. ─ Eu vou fazer o meu melhor, pode ter certeza. Mas eu também preciso da sua ajuda. Você tem alguma dica, algum conselho, alguma lição para me ensinar?
─ Bem, eu tenho algumas coisas para te dizer ─ disse o Natal, pensativo. ─ A primeira é que você nunca se esqueça do verdadeiro significado do seu papel. Você não é apenas um número, uma data, um calendário. Você é um símbolo, uma mensagem, um propósito. Você é o Ano Novo, e isso significa que você representa a esperança, a renovação, a mudança.
─ Eu entendo ─ disse o Ano Novo, atento. ─ E como eu faço para transmitir isso para as pessoas?
─ Você faz isso através do seu exemplo, da sua atitude, da sua energia ─ disse o Natal, animado. ─ Você mostra para as pessoas que elas podem ser melhores, que elas podem fazer a diferença, que elas podem realizar os seus sonhos. Você incentiva as pessoas a se planejarem, a se organizarem, a se comprometerem. Você desafia as pessoas a se superarem, a se adaptarem, a se inovarem.
─ Isso parece muito interessante ─ disse o Ano Novo, empolgado. ─ E o que mais você tem para me dizer?
─ A segunda coisa que eu tenho para te dizer é que você nunca se deixe abater pelas dificuldades, pelos obstáculos, pelos problemas ─ disse o Natal, sério. ─ Você vai enfrentar muitos desafios, muitas crises, muitas incertezas. Você vai ver muitas coisas ruins acontecerem, muitas injustiças, muitas tristezas. Você vai sentir muita pressão, muita ansiedade, muita frustração.
─ Eu sei ─ disse o Ano Novo, preocupado. ─ E como eu faço para lidar com isso?
─ Você faz isso através da sua fé, da sua coragem, da sua resiliência ─ disse o Natal, confiante. ─ Você acredita que tudo tem um sentido, um motivo, um aprendizado. Você enfrenta os problemas com determinação, com solução, com ação. Você supera as adversidades com otimismo, com perseverança, com evolução.
─ Isso parece muito importante ─ disse o Ano Novo, impressionado. ─ E o que mais você tem para me dizer?
─ A terceira coisa que eu tenho para te dizer é que você nunca se esqueça de celebrar, de agradecer, de compartilhar ─ disse o Natal, feliz. ─ Você vai vivenciar muitos momentos bons, muitas conquistas, muitas alegrias. Você vai ver muitas coisas lindas acontecerem, muitas bondades, muitas felicidades. Você vai sentir muita emoção, muita gratidão, muita satisfação.
─ Eu quero ─ disse o Ano Novo, animado. ─ E como eu faço para fazer isso?
─ Você faz isso através da sua festa, da sua generosidade, da sua solidariedade ─ disse o Natal, orgulhoso. ─ Você celebra a vida, o amor, a paz. Você agradece a Deus, a si mesmo, aos outros. Você compartilha o seu tempo, o seu talento, o seu tesouro.
─ Isso parece muito bonito ─ disse o Ano Novo, encantado. ─ E o que mais você tem para me dizer?
─ A última coisa que eu tenho para te dizer é que você nunca se sinta sozinho, isolado, abandonado ─ disse o Natal, carinhoso. ─ Você vai contar com muitos amigos, muitos aliados, muitos parceiros. Você vai ter muitos anjos, muitos guias, muitos mestres. Você vai receber muita ajuda, muita inspiração, muita proteção.
─ Eu preciso ─ disse o Ano Novo, emocionado. ─ E como eu faço para reconhecer isso?
─ Você faz isso através da sua intuição, da sua sensibilidade, da sua conexão ─ disse o Natal, sábio. ─ Você escuta o seu coração, a sua alma, o seu espírito. Você percebe os sinais, as sincronicidades, as coincidências. Você se abre para o universo, para a luz, para o amor.
─ Isso parece muito mágico ─ disse o Ano Novo, maravilhado. ─ E é isso?
─ É isso ─ disse o Natal, sorrindo. ─ Essas são as coisas que eu aprendi durante o meu ciclo, e que eu quero te passar para o seu. Espero que elas te ajudem, te orientem, te iluminem.
─ Muito obrigado, Natal ─ disse o Ano Novo, abraçando-o. ─ Você foi um grande amigo, um grande professor, um grande exemplo. Eu vou guardar as suas palavras no meu coração, na minha mente, no meu ser.
─ De nada, Ano Novo ─ disse o Natal, retribuindo o abraço. ─ Você é um grande aluno, um grande sucessor, um grande promissor. Eu vou torcer por você, por suas realizações, por suas transformações.
E assim, o Natal e o Ano Novo se despediram, com muito amor e respeito. O Natal se foi, deixando um rastro de luz e paz. O Ano Novo ficou, pronto para começar o seu ciclo, cheio de esperança e mudança.
E o mundo, que assistia a tudo, se encheu de gratidão e admiração. Pois sabia que tinha recebido um grande presente, uma grande lição, uma grande bênção.
Adeus e gratidão ao ano que se vai e bem-vindo ao novo ano que está chegando! 🙏🕉️🤍

4

Por que tive que partir tão cedo?
Na casa de Geraldine, tudo parecia calmo, mas algo a perturbava profundamente, sem que ela compreendesse o motivo.
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Ao longo do dia, a agonia em seu peito persistia, levando-a de um lado para o outro em busca de respostas para a amargura que a dominava. Nada conseguia alegrá-la; tudo parecia estranho e desconexo.
Ao retornar do trabalho, seu marido percebeu imediatamente a inquietação dela:
─ O que aconteceu, querida? Por que você está tão apreensiva?
─ Não sei, amor. Passei o dia com febre, coração acelerado e uma sensação de mal-estar no estômago. Uma tristeza imensa me acompanhou o dia todo.
─ Quer ir ao hospital fazer alguns exames?
─ Não! Eu sei que não é nada físico. Sinto que algo está prestes a acontecer, mas não consigo imaginar o que seja. Nossos filhos ainda não chegaram, e isso está me incomodando.
─ Vou ligar para eles, disse o marido, agora também agoniado.
─ Não adianta, já tentei várias vezes.
Horas depois, Ismael, o filho mais velho, chega. Geraldine corre ao seu encontro:
─ O que aconteceu? Por que não atendeu o telefone?
─ Desculpe-me, desliguei quando estava no trabalho e esqueci de ligá-lo novamente. O que está acontecendo? Por que vocês estão nervosos? Nunca os vi assim. Além disso, já aconteceu de eu esquecer de religar o celular várias vezes.
─ Cheguei aqui e encontrei sua mãe muito aflita, dizendo que está assim o dia todo. Ao vê-la dessa forma, também fiquei preocupado. Não conseguimos contatar seu irmão. Sabe por onde ele anda?
─ Não se preocupem, logo ele estará de volta. Ele disse que iria pescar com alguns amigos no Rio Alto, próximo da nossa cidade.
As horas passam, mas José não retorna, aumentando o desespero dos pais e de Ismael. A mãe exclama:
─ Meu Deus, por que meu filho não chega?
Ismael decide ir até o rio onde seu irmão havia dito que iria. Chegando lá, vê um tumulto de pessoas. Seu coração salta no peito, e ele se aproxima de um amigo de José, perguntando:
─ O que está acontecendo aqui? Onde está José?
─ Ele estava brincando na água e de repente desapareceu. Achamos que ele está querendo nos pregar uma peça, mas decidimos chamar os bombeiros.
─ Meu Deus, vocês sabiam que José tem pavor de entrar na água. Por que não o impediram?
─ Conhece José, quando ele quer fazer algo, nada o impede, ainda mais depois de ter bebido todas.
Ismael, ao conversar com os bombeiros, soube que, devido à hora tardia, não podiam continuar as buscas, que seriam retomadas ao amanhecer. Ele volta para casa para informar seus pais sobre os acontecimentos. Antes, passa na casa da irmã Alice e a informa, assim como ao cunhado, sobre o que estava ocorrendo. Sua irmã, desesperada, juntamente com o cunhado, decide ir ao local do incidente ao amanhecer.
Em casa, todos estão aflitos, mas Ismael tenta acalmar os pais, sugerindo que José logo sairia de alguma moita, rindo muito. fazendo suas piadas e travessuras habituais. No entanto, suas tentativas são em vão, pois o pai sai desesperado pelas ruas, enquanto Ismael se deita aos pés da cama da mãe, buscando trazer-lhe esperança, mesmo com o coração despedaçado.
A noite passa lentamente para todos, desejando que o dia amanheça rápido para encontrar José. Nas primeiras horas da manhã, a campainha toca, e Geraldine, parecendo prever o que aconteceu, corre desesperadamente para abrir a porta. Seu genro, com uma expressão de tristeza, confirma suas suspeitas. Seu olhar transmite sem palavras a terrível notícia. Ao perguntar sobre seu amado filho com o olhar aflito, ele responde afirmativamente, baixando a cabeça. Um profundo mal-estar toma conta de Geraldine, desejando que a terra se abra e a engula. Sem conter-se, ela expeliu jatos enormes de vômitos, gritando e chorando. Seu marido a abraça com força, como se quisesse extrair a dor insuportável que ambos sentiam. Ele pede que ela se acalme, mas sente como se uma espada estivesse perfurando seu coração, fazendo-o sangrar.
O pai leva o genro a uma saleta e pergunta como aconteceu.
─ Nosso querido José se afogou no rio. Ele não sabia nadar, como vocês sabem. Naquele momento, pairou no ar se alguém não o tivesse empurrado para dentro do rio.
─ Mas por que não o ajudaram a sair de lá?
─ Ele foi tragado por um redemoinho. Um casal distante o viu levantando os braços pedindo socorro; os amigos, pensando que ele estava brincando, não foram socorrê-lo. Só quando não voltou à margem é que ficaram preocupados e chamaram os bombeiros.
Sobre José...
José era um rapaz alegre, com bons sentimentos, mas quando bebia, suas ações extrapolavam. Como representante de uma famosa marca de roupas, viajava muito e, ao retornar, procurava os amigos que compartilhavam seu hábito prejudicial. Após as baladas e com o dinheiro esgotado, voltava para casa e se envolvia em discussões, demonstrando agressividade quando confrontado por Ismael e seus pais sobre seu caminho equivocado.
Apesar das constantes brigas, eles o amavam muito. José, sóbrio, era vibrante e alegre, não permitindo tristeza à sua volta. Adorava cantar, contar piadas e fazer palhaçadas para alegrar todos ao seu redor. Antes de partir a trabalho, seu coração se apertava, reconhecendo suas travessuras, mesmo não querendo cometê-las. Ao chegar ao hotel, ligava para a mãe pedindo perdão, muitas vezes chorando de arrependimento e prometendo não repetir suas ações.
O Funeral
O funeral ocorreu com a presença de poucos amigos e parentes, mas o ambiente estava impregnado de preces e lembranças sinceras. José não estava presente, pois logo após seu desencarne, foi conduzido por uma equipe socorrista a um hospital no plano astral, onde permaneceu em sono reparador para sua reabilitação. Ao despertar, percebeu estar em um local semelhante a um hospital terrestre, mas notou que sua cama flutuava, o que o surpreendeu. Questionando-se se estava sonhando, começou a recordar flashes do momento em que estava com seus amigos, experimentando desespero ao tentar sair da água, a falta de ar e seu debater incessante. Sentindo-se agitado, Mariza, uma bondosa enfermeira, entrou no recinto com um delicado sorriso nos lábios.
─ Como está, meu querido irmão?
─ Onde estou? Tudo aqui é tão diferente. Minha última lembrança é do desespero ao tentar sair do rio, da força que me puxava para baixo.
─ Você deixou seu invólucro físico e está agora em um hospital socorrista.
─ Quer dizer que morri?
─ Não exatamente. Ninguém morre, apenas muda de plano. Melhor tomar este caldo e chá para se acalmar. Depois poderá explorar este lugar. Voltarei para responder suas perguntas.
Mariza deixou José com suas dúvidas, sofrimentos e saudades dos familiares. Adormeceu novamente para fugir de pensamentos sombrios, acordando sobressaltado com uma agonia profunda e sentindo o sofrimento de seus entes queridos. Mariza aguardou o tempo necessário para que José se arrependesse de seu comportamento na vida terrena. Ao retornar, encontrou-o chorando copiosamente e o confortou com palavras de ânimo.
─ Tudo ficará bem! Os sofrimentos são necessários para nossa redenção. Você sofreu o suficiente; agora, precisa de coragem para superar e estudar para não recair nas tarefas que ainda terá.
─ Por que não fui para o inferno, como sempre aprendi? Fiz coisas ruins...
─ Quem disse que você não esteve no inferno? Todo o sofrimento que passou aqui foi melhor que o inferno que imaginou?
─ Não, a dor foi insuportável, não se compara com o que imaginava.
─ O inferno e o céu estão nos sentimentos que nutrimos. Vergonha, culpa, medo foram seus sentimentos, causando sofrimento. Levante-se, vamos entender suas fraquezas.
─ Sinto-me fraco, cansado...
Mariza canalizou energias revitalizantes sobre a cabeça de José, fortalecendo-o. Juntos, dirigiram-se a um jardim repleto de flores, proporcionando a José uma experiência que jamais havia vivenciado na Terra. Com o passar do tempo, José passou por uma transformação gradual, compreendendo a profundidade da verdade de que ninguém verdadeiramente morre; a vida é eterna. Ao trilharmos diversos caminhos, enriquecemos nossa jornada e alcançamos evolução contínua. 
No plano terrestre
Por muito tempo, na casa dos pais de José, a atmosfera era desprovida de cor, vida e alegria. Entretanto, um dia, enquanto estavam reunidos à mesa de jantar, praticando o evangelho no lar, seu pai, com os olhos marejados, compartilhou uma sensação de leveza e amor que invadiu seu peito.
─ Geraldine... Ismael, estou me sentindo mais leve agora. Uma onda de amor invadiu meu peito. Não imaginam a alegria que está expandindo em meu coração!
─ Eu também, meu querido! Percebo um alívio no meu coração. Sinto que nosso José está melhor no plano onde se encontra.
─ Papai, mamãe... O mesmo está ocorrendo comigo. Que sensação boa, Jesus!
Nesse exato momento, José, acompanhado de sua mentora Mariza, estava presente, observando carinhosamente o irmão e os pais. Ele irradiava amor, paz e luz sobre todos eles. Sabendo intuitivamente que a partir daquele dia, uma transformação significativa ocorreria, e a harmonia voltaria a reinar em ambos os planos.
Contudo, uma surpresa aguardava a família. Enquanto todos compartilhavam a sensação de alívio, a porta da sala se abriu suavemente, revelando a presença física de José diante deles. Seus olhos, agora cheios de paz e serenidade, encontraram os olhares incrédulos de seus familiares.
─ José? ─ sussurrou seu pai, incapaz de acreditar no que via.
─ Sim, pai, sou eu. Estou aqui para dizer que estou bem, em paz. E agradeço a cada um de vocês por suas preces e amor.
A emoção tomou conta da sala, lágrimas de alegria escorriam pelos rostos. Era como se um milagre estivesse acontecendo diante deles. José, agora em uma forma espiritual aprimorada, estava ali para garantir que seus entes queridos compreendessem que a vida é eterna, repleta de aprendizado e amor. A partir desse momento, a casa, antes envolta em tristeza, foi preenchida com uma luz intensa, reafirmando que o vínculo entre eles transcende a barreira entre os planos espiritual e terreno.
Conto em homenagem ao meu querido irmão, Isaías José Ribeiro Bauman (16/06/1957 - 19/12/1979)
Que sua luz continue a brilhar através das memórias e do amor que deixou em nossas vidas. Sua presença eterna nos inspira a valorizar cada instante e a levar adiante o legado de bondade e alegria que você compartilhou conosco.

5

E cuidando do seu jardim
No coração de uma casa que abrigava crianças abandonadas, um pequeno ser chamado Paulinho florescia. Sua alegria e astúcia eram como raios de sol em meio à escuridão.
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O quintal se tornava sua vasta terra de aventuras, onde escalava árvores e equilibrava-se nos galhos mais altos. Paulinho exibia maestria ao girar seus piões, e nos dias de passeio, sua pipa, confeccionada por suas mãos hábeis, desenhava arcos nos céus, provocando uma silenciosa "inveja branca" entre seus amigos.
Na escola, sua presença não passava despercebida pelo diretor, que frequentemente o chamava para auxiliá-lo. Seja na organização dos livros da biblioteca ou nos torneios anuais, Paulinho era uma fonte de vitalidade e habilidades.
Na casa que acolhia essas crianças, celulares eram substituídos por brinquedos confeccionados por eles mesmos. Sob a orientação do diretor e dos professores, suas mentes eram aguçadas, resultando em criações cada vez mais surpreendentes. A vida naquela casa parecia tingir-se de cores vibrantes e brilho intenso, pois as conexões com o universo eram sentidas e aproveitadas plenamente.
Brincadeiras surgiam como mágica, algumas remetendo a tempos longínquos, enquanto outras projetavam-se no futuro. O termo "magia" era o mais adequado para descrever tudo o que acontecia com aquele grupo unido e alegre.
Os meninos, engenhosos, construíam carrinhos com latas, areia e cordinhas, enquanto as meninas davam vida a bonecas com espigas de milho ou retalhos de pano. Cada dia trazia consigo uma nova ideia, um novo projeto, todos alimentados pelos recursos vindos da natureza.
Os cuidadores da casa, um casal de almas bondosas, eram faróis que guiavam essas vidas em crescimento. Sua alegria e amor pela natureza eram contagiantes, motivando as lindas criaturas a explorar e criar diariamente.
E, cuidando com luz, brilho, cores e amor do jardim interno, Paulinho e seus companheiros colaboravam e auxiliavam na grandiosa beleza do jardim cósmico. No coração da adversidade, eles descobriram a magia de viver, de aprender, e de crescer como almas puras, nutridas pela luz da sabedoria e do amor. O imenso jardim cósmico sorria com cada nova flor desabrochando em seus corações.
Em uma noite estrelada, Paulinho e seus amigos, movidos pela curiosidade e pela energia vibrante que os unia, decidiram explorar os recantos do quintal, onde histórias antigas eram contadas pelo casal cuidador. Havia uma árvore majestosa, mais alta que todas as outras, cuja copa parecia alcançar o céu.
Sob a luz da lua, os galhos balançavam ao vento, produzindo um som que mais parecia um sussurro. As crianças acreditavam que a árvore guardava segredos. Com lanternas improvisadas, escalaram seus troncos robustos e, entre risos e cuidado, encontraram um espaço escondido, quase como um pequeno santuário natural.
Lá, gravados na madeira da árvore, estavam símbolos e desenhos que lembravam estrelas, planetas e constelações, provavelmente deixados por crianças que haviam vivido ali antes. Inspirados, Paulinho e seus amigos começaram a desenhar também, deixando suas próprias marcas e sonhos. Naquele momento, sentiram-se conectados não apenas à árvore, mas uns aos outros, como se estivessem participando de algo maior, algo eterno.
Os cuidadores, ao verem a empolgação dos pequenos na manhã seguinte, decidiram usar aquele espaço como inspiração para novas brincadeiras e lições. As crianças aprenderam sobre o céu, as estrelas e o papel da natureza em suas vidas. Assim, o "jardim cósmico" ganhou vida, não como um portal para outra dimensão, mas como um lugar de aprendizado, imaginação e união.
À medida que Paulinho e seus amigos cresciam, tornaram-se mentores para as novas crianças que chegavam, compartilhando histórias, ensinando sobre a árvore e sobre como a criatividade podia transformar qualquer dificuldade em uma oportunidade de aprender e crescer. A casa, com seu jardim repleto de vida, continuou a florescer como um lar de acolhimento, onde o amor, a amizade e o conhecimento transformavam vidas.
E assim, cuidando do "jardim cósmico" que existia tanto na terra quanto em seus corações, Paulinho e os outros cresceram, levando consigo a certeza de que a magia de viver não está nos portais ou dimensões fantásticas, mas na capacidade de transformar o ordinário em extraordinário com imaginação e amor.
Conto em homenagem ao meu querido irmão, Paulo Ismael Bauman (14/03/1954 - 01/06/2005), cuja luz e legado continuam a inspirar.

6

Ver e Sentir Além
Esta história se passa em um lugar onde a realidade se mistura com coisas incríveis, onde o que é tangível se mistura com o místico.
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Encontrei, certa vez, enquanto estava numa fila de supermercado, uma senhora de estatura pequena, porém esguia, com traços delicados, pele branquinha, cabelos longos e soltos. Vestia um vestido em tons lilás, azul e branco, todo esvoaçante. Ela possuía um grande magnetismo; de repente, me vi ao seu lado. Na profundidade de seus olhos, conseguia enxergar sabedoria. Esse aspecto chamou minha atenção e fez-me querer ficar em sua companhia. A fila pareceu ter parado, e naquele momento, apesar de ter uma lista enorme de compromissos a serem concluídos naquele dia, não me preocupei. Aquela presença me banhava de paz.
Ela olhou para mim e sorriu com tal pureza que me envolveu de alegria, dando-me a chance de saber um pouco mais sobre aquela criatura tão diferente e especial.
— A senhora mora por esses lados?
— Não e sim. Vivo nas montanhas, mas gosto de visitar e vagar por vários lugares. Meu trabalho é estar presente nas atividades do Universo.
— Desculpe-me, mas olhando para a senhora, em sua maneira de ser, consigo ver um anjo – falei sorrindo. – É tão delicada em sua postura, e tem uma pele tão rosada e lisinha, as montanhas devem lhe fazer muito bem, não é?
— Sim, amo as montanhas, e realmente me fazem muito bem. No alto delas, eu fico mais próxima do céu, consigo brincar com as nuvens, transformando-as.
Eu ri com sua piada e respondi:
— Por isso vemos imagens se formando nas nuvens? Então, esse trabalho é seu?
— Entre outras coisas, sim, adoro embelezar os dias aqui na Terra. Estamos no sopro do vento, na força de um furacão, outras vezes na brisa aconchegante do ar ou ainda nas tormentas de uma forte ventania. Somos nós, os responsáveis pelo deslocamento das nuvens, formando uma agradável chuva ou uma grande tempestade.
Eu estava adorando aquela conversa, então fui dando corda para sua imaginação.
— E existem muitos de vocês?
— Sim, por toda parte, vivemos em torno do ar. Inclusive, as suas primaveras são mais coloridas e perfumadas porque trabalhamos na polinização, transportando pelo ar o pólen das flores.
— Que incrível! Pode me dizer sua idade?
— Atualmente, 413, estou perto da meia idade.
— 413? Meia idade? E a quantos pretende chegar?
— Acredito que uns 990 anos.
— Mas a senhora é muito linda, bem esguia, não parece ter tudo isso! – sorri falando.
— Nossa espécie não envelhece.
— Entendi! Tem muita vida pela frente ainda.
Nesse momento eu não estava rindo, dava impressão, pelo seu modo correto e gentil de se expor, que tudo aquilo era sincero e real. Pensei, será que estou ficando doida? Como posso estar entrando nessa paranoia? Mas algo me fazia dar atenção àquela linda senhora. Sentia sua alta vibração envolver a mim e a todos que estavam naquela imensa fila. Eles se portavam calmamente, sorrindo uns com os outros, conversando graciosamente entre eles. Eu pensava: o que está acontecendo aqui?
— Não fique assim, garota! Quando nos conhecer, saberá que existimos. Não é sempre que assumimos a forma humana, e quando o fazemos é por pouquíssimo tempo. Sabia que quando está escrevendo seus poemas ou fazendo suas pinturas, eu ou algum companheiro meu, estamos te inspirando?
— Olha, estou até me convencendo que você é realmente um ser da natureza. De fato, sou poeta e artista plástica. Sinto fortemente uma enorme inspiração quando estou escrevendo ou pintando. Como sabe disso tudo?
— Porque esse é um dos nossos propósitos de trabalho, inspiramos os artistas a trazerem a esse plano algo sensível e belo. Reinamos no elemento ar, que é um dos quatro elementos. Existem os que reinam no elemento fogo, outros no elemento terra e outros no elemento água. Os silfos, os masculinos, e nós, as sílfides, consideradas como as fadas do ar, somos capazes de elevar seus pensamentos e intenções ao plano sutil mais nobre. Existem entre nós, seres meigos e delicados, que ao deslocar as nuvens podem provocar chuvas calmas e deliciosas, e outros, quando irritados, podem provocar grandes raios, relâmpagos, vendavais e furacões, como resultado de suas iras.
— E por que eles ficam irados?
— Quando entram nos pensamentos dos humanos e observam maldades, pensamentos impuros, percebem o quão estão perdendo tempo e isso os deixam raivosos. Os raios, os trovões, e fortes relâmpagos surgem para acordá-los. Alguns até passam a pensar diferente, mas a maioria continua dormindo.
— Estou me sentindo Alice no país das maravilhas, tudo isso é inusitado para mim, nunca imaginei que vocês pudessem existir de fato. E até agora nem sei se ainda acredito, embora tenha acertado muita coisa ao meu respeito e de sua aparência ser bem diferente, indicando, realmente, a imagem de uma fada.
— Você tem boa percepção. — respondeu alegremente.
— Pensando bem, como não acreditar em você? Seu aspecto, seu jeito de falar e se portar... Olha o pessoal olhando pra você! Dá a impressão que todos sentem quem você é. A sensação é que estão querendo decifrar algo que passa em suas mentes.
— Eu influencio seus pensamentos, mas sempre de uma maneira positiva e boa, jamais com a intenção de fazer-lhes mal, e nesse momento eu os inspirei a vivenciarem boas memórias, levando energias negativas para longe daqui.
— Por isso percebo o ar mais leve e agradável!?
— Sim, pois os pensamentos são muito poderosos, quando estiverem com eles em equilíbrio e em harmonia tudo se transforma na mais prazerosa e salutar energia.
Fiquei por instantes a imaginar: porque eu estava tendo todas aquelas informações e não as outras pessoas que estavam naquele mesmo local? Sem que eu pudesse fazer a pergunta, ela parecendo ler meus pensamentos, respondeu às minhas indagações:
— Porque você é especial, adora a natureza! Estar com as plantas e pisando na terra e na grama é seu estado de graça. Você é muito sensível, e isso faz eu me aproximar sempre de você, normalmente de forma bem sutil, sem que você me veja. Contudo, consegue me sentir, através das minhas inspirações e da força de vontade que promovo em você, todos os dias. Sinto-me atraída a estar com você quando acende um incenso, quando faz uso dos aromas naturais, quando usa das suas habilidades criativas, como escrever, desenhar, pintar, cozinhar e tantas outras. Nós, da minha raça, adoramos músicas instrumentais, principalmente flautas, e você parece gostar muito também. Viu quantas coisas temos em comum?
— Estou num estado de euforia, não imaginaria conhecê-la algum dia. De fato, sou apaixonada pela natureza e por tudo que ela nos oferece, mas ser digna de um dia poder vê-la e ter a oportunidade de falar com você, ah, isso jamais!
— Quando se merece, as coisas acontecem.
Logo após nossa conversa, uma ventania muito forte se fez do lado de fora.
— Preciso ir, meus amigos me chamam. Quis que me conhecesse e soubesse que está no caminho correto e que, se um dia precisar de mim é só me invocar da mesma maneira que já o faz. Porém, como agora consegue me ver, será mais divertido.
— Sinto-me feliz em saber que você existe e que trabalha por nós.
Após essas pequenas palavras, porém carregadas de emoção, fui ao seu encontro para abraçá-la, mas num piscar de olhos ela havia desaparecido. Olhei para as pessoas, e tudo estava normal novamente, muitos já estavam indo embora. Como que em tão pequeno espaço de tempo, tudo aconteceu? Será que estava num sonho? Não, foi muito real! Imagina, eu, ter visto uma sílfide!? Saber que ela tem o controle e o poder do ar que inalo, que balança as folhas, que inspira nossa imaginação… Parecia até ser de carne e osso! Preciso pensar com mais calma sobre o que aconteceu. Fui para casa, pensativa, com meu coração ainda agitado.
Passaram-se os dias, e a imagem daquela linda criatura não saía da minha cabeça. Tentava pensar em outras coisas, mas não conseguia. Muitas vezes, até pensei em contar aquele encontro para outras pessoas, mas desisti. Sabia intimamente que não iriam acreditar. Passei a ler e a estudar sobre silfos e sílfides; minha vida agora era baseada em suas vidas. Depois de um tempo, exausta com tantas informações, adormeci. Foi um sonho tão lúcido que senti estar realmente ao seu lado; acredito ter sido uma projeção astral.
— Por que tanta incredulidade? — dizia ela. — Vendo você aqui novamente, percebo sua verdadeira existência.
— Vocês não conseguem acreditar nas coisas que não conseguem ver com os olhos da carne, isso é falta de uma maior compreensão, sabia? A vida, no plano em que vivem, não se resume no material palpável; há muitas coisas existentes no espaço em que vocês consideram um vazio. Já pensou nisso? Se pudessem se lançar no tempo para que suas consciências se expandam, veriam que o que definem como mistérios seriam, aos poucos, desvendados. Os véus da ignorância se descortinariam, e muita lucidez daquilo sobre quem são se revelaria. É por isso que estamos nos mostrando para alguns. Chegou a hora de tornar perceptível o que, até o momento, aos olhos da maioria nada existe, além do plano físico. Vou te levar a viajar um pouco, me dê sua mão.
Senti sua mão gélida e delicada ao tocar a minha. Incrivelmente, viajei pelo espaço, senti um enorme conforto ao abraço envolvente e carinhoso da brisa que se fez presente em todo meu ser. Passamos sobre montanhas, florestas, desertos, mares, pelas regiões mais geladas do nosso planeta, e foi muito lindo ver tudo aquilo! Numa rapidez, vi o meu planeta em suas diversas características. Chegamos a penetrar numa floresta, corremos alegremente entre suas frondosas árvores. Havia momentos em que eu dava impulsos com meu corpo, me elevando e voando bem próximo às nuvens. A minha querida companheira de viagem astral, com toda a graciosidade, rodopiava, ria, cantava, me mostrando com tudo isso que a vida é para ser homenageada com alegria. Acordei rindo muito, como se tivesse saído de uma sessão de cócegas. Nesse dia, entendi a mensagem que recebi. Algo que sei que teria que praticar: o olhar além do mundo estático e manifestado, e a alegria constante que devo ter e partilhá-la com todos ao meu redor.
Levantei alegre e agradecendo por tudo que recebi e recebo no meu dia a dia. Tomei o melhor banho da minha vida, sentindo a água lavar não só meu corpo físico, mas também todos os outros, tão importantes quanto. A água, como tudo, é carregada de energia, uma energia que muitos não veem, porém é sentida.
Pus a minha melhor roupa, usei o meu melhor perfume. Saí cantarolando com o coração leve e feliz; parecia que todas as células do meu corpo riam para mim. A alegria que irradiava atingia a todos que me olhavam. Cheguei à escola que leciono, já com um novo olhar para com meus colegas e alunos. Deixei fluir minha intuição como nunca havia feito. Como professora de artes que sou, aproveitei o que estava sendo ensinado na aula de biologia, que no momento era a botânica, e então pensei em elaborar um trabalho prático com eles. Pedi que me dissessem a planta que mais chamava suas atenções e fomos anotando, falamos um pouco das peculiaridades de cada uma. Cada qual desenhou e pintou sua planta favorita. Como na escola existe um grande espaço verde, eu sugeri que trouxessem para a aula seguinte uma mudinha de suas plantas prediletas para que pudéssemos plantá-las, cuidá-las e observar seu crescimento, reprodução e desenvolvimento. Adoraram ter que participar ativamente de todos os processos. Meu objetivo com a execução dessa atividade foi de produzir prazer, divertimento e, acima de tudo, amor à natureza.
Percebi como foi instrutivo meu passeio com minha amiga Sílfide, e como estava me orientando com pensamentos revitalizantes, proporcionando-me a trabalhar além da matéria regular em sala de aula, valores, dos quais acredito, irão incorporar em seus seres. Sabia também que, para acontecer, teria que expandi-los dentro de mim. Como ensiná-los sem sabê-los, não é mesmo?!
Diariamente, coloquei em prática tudo de melhor que retirava dos meus estudos individuais. Além do que podia compreender nos livros, havia as minhas observações dos aprendizados tirados dos acontecimentos cotidianos em geral e as transformações processadas internamente em mim. Tudo era fantástico! Percebi, aos poucos, as mudanças sendo realizadas com os alunos e os demais professores. Passamos a fazer reuniões periódicas, e até mesmo os professores que tinham uma ideia distorcida de muitos fatos passaram a interagir. Perceberam que estava surgindo uma nova fase; uma maneira diferente de olhar o processo de aprendizagem. A escola estava sendo notada pelos esforços de todos, inclusive dos pais dos alunos, que perceberam que suas participações efetivas na vida de seus filhos estavam lhes trazendo bem-estar e paz.
A vida, pela minha observação, ia se transformando na maior tranquilidade. Tudo fluía bem, mas chegou o momento em que passei a sentir falta de ter um companheiro. Tinha vontade de compartilhar minhas ideias com alguém que tivesse a mesma ânsia de conhecimento e aprendizado que eu.
Numa noite em que não conseguia ficar com os olhos abertos, fui para a cama e logo em seguida me percebi fora do corpo. Estou numa viagem astral, pensei. Estava em pé em meu quarto e via meu corpo na cama; o inacreditável é que não tive medo. Olhei ao redor e vi tudo se transformando. Já não era mais o meu quarto, mas sim outro bem diferente, muito grande, com móveis em madeira, marfim, junco, tudo em cores vivas, diversas esculturas e lindas pinturas. Sobre os belos armários havia muitos cristais de onde saíam labaredas de luzes em diversas cores. Fiquei a observar cada detalhe e senti que aquele local havia me pertencido um dia. O engraçado é que me percebi como uma espectadora num local que sabia ter sido meu. Depois de um tempo, entrou um rapaz muito bonito com semblante triste, sentou-se a uma charmosa mesinha e olhou para uma foto. Fui até ele ver a foto, e para minha surpresa, era eu. Estava com uma vestimenta colorida em lindo azul e branco, e adornada em joias. Olhei mais atentamente para aquele homem sofrido, e como fogo em chamas em minha alma, eu o reconheci; era o amor da minha vida. Talvez por isso meus relacionamentos nunca deram certo, eu pensei. Tinha-o dentro de mim, secretamente, e sem saber, eu o procurava sem nunca tê-lo encontrado aqui neste plano.
Quando voltei ao meu corpo, ainda senti arder meu coração. Onde será que estaria agora? Perguntei a mim mesma; essa foi a primeira coisa que surgiu na minha mente ao despertar. Aquela sensação não me deixava em paz, a imagem daquele homem não saía da minha cabeça. Tinha toda certeza de que o amava com todo meu coração, o sentimento era muito profundo. Como podia ser aquilo?! Sentir fortemente um amor que nem sabia onde encontrá-lo. Como não acreditar na espiritualidade!? Ela por muitas e muitas vezes se mostrou a mim, e com convicção, digo que estamos presos a um corpo para experienciarmos e aprendermos coisas que só aqui nesse plano manifestado conseguiremos. Local onde os sentimentos podem ser trabalhados e transformados, pois é aqui, nessa dimensão, em que os conflitos e indecisões são processados, é nele que conseguimos nos aprimorar. Observando-nos nos períodos de crises e de provas, podemos, através deles, fazer nossa reforma íntima. Mudando nossos pensamentos, nossa maneira de agir, cumprindo o papel que nos cabe, exercendo o nosso melhor, e assim poder evoluir.
Minhas viagens continuaram pelo mundo astral, porém, não mais voltei àquela casa onde encontrei o amor que sabia ser de muitas vidas. Meu tempo passou a ser preenchido por coisas que aprecio fazer. Continuei lecionando, pintando meus quadros, escrevendo livros. Aprendo muito pelas inspirações que recebo quando estou escrevendo.
Tornamo-nos muito amigas, eu e minha querida sílfide, Branween, esse era o seu nome. Um dia, ela veio me trazer um convite, muito especial, de Iemanjá, nossa querida rainha do mar, para celebrar seu grande dia em dois de fevereiro. Era uma festa direcionada aos orixás, entidades e aos elementais. Esses seres tinham permissão de convidar humanos que, em seus estados alterados de consciência, conseguiam interagir com os planos mais sutis.
O dia tão esperado chegou, e a alegria de ter tido a honra de ser convidada ainda pulsava forte em meu coração. Algumas pessoas já estavam na praia, arrumei um local em que podia vislumbrar o mar e a floresta ao seu lado. Sentei-me, agradecendo pela oportunidade incrível de participar de um grande evento, em que muitos, com certeza, não acreditariam. Procurei acalmar meu coração, fechei meus olhos, passei a meditar, e depois de um tempo, senti um deslocar suave ao lado do meu corpo. Senti-me livre, vendo e ouvindo tudo com o olhar da alma. Luzes em diversas cores envolviam as criaturas que lá estavam, a atmosfera era de puro amor.
Suas atenções estavam voltadas para o mar, e, naquele momento, as ondas fizeram um ir e vir bem alto. Em seguida, vimos as ondinas, todas belas, expandindo luzes por todo o mar, acalmando as ondas e abrindo passagem para Iemanjá. Com muita luz em sua aura em branco e azul, ela saiu calmamente da água, flutuando sobre ela. Vestida com um lindo vestido azul e um belo arco adornado com um pentagrama cravejado em brilhantes, era um espetáculo. Ao pisar na praia, flores foram plasmadas em seus pés. Seu pai Olokun, orixá rei dos oceanos, a recebeu com abraços carinhosos, e todos os demais foram também abraçá-la.
Após as homenagens, ficaram todos em silêncio irradiando paz e luz para todo o planeta. Uma linda música se fazia ouvir em toda atmosfera, enquanto eu, e os demais à minha volta, agradecíamos aos céus por tanta beleza e emoção. O céu se abriu em um colorido sem igual, símbolos e imagens geométricas surgiram em uma extraordinária visão. Todos pararam naquele momento para apreciar o lindo cenário que se fez presente a todos que ali estavam.
Passada essa bela manifestação do céu, os elementais se apresentaram à Iemanjá, oferecendo alguns dos seus atributos como presentes. Os Silfos e Sílfides trouxeram rojões e fogos de artifício, as salamandras fizeram espirais de fogo, e os gnomos e duendes correram, alegrando todos com suas brincadeiras.
Vendo toda aquela manifestação de alegria, não percebi que se aproximava de mim um homem. Só o descobri quando sentou-se ao meu lado, com um olhar sereno e um belo sorriso. Com muita emoção, reconheci o ser ao meu lado. Iemanjá se aproximou de nós e, com suas mãos de luz, nos abençoou. Suspiramos profundamente para que nossas emoções se acalmassem, depois de um bom tempo, ele fitou firmemente meus olhos.
— Sim, eu sei que está perplexa e se perguntando como eu te encontrei, não é mesmo?
— Realmente. Como me encontrou? Te procurei tanto. — respondi com muita emoção.
— Assim como você tem sua grande amiga Branween, eu tenho um grande amigo no mundo sutil também, que aliás, muito solícito me ajudou a estar aqui para participar desse maravilhoso evento e te encontrar.
Ficamos por longo tempo de mãos dadas, as explicações já não se faziam necessárias, o que importava era nossas almas estarem unidas novamente. O céu voltou a se mostrar em cores e formas, os trovões e relâmpagos brilhantes se destacavam, brisas com aroma suave do mar batiam em nossas faces, músicas doces e calmas pareciam penetrar em nossas células, tudo estava perfeito. Luzes coloridas e com indescritível brilho estavam espalhadas por todos os cantos.
Iemanjá, feliz e satisfeita, pediu que a celebração ocorra também nos dias quinze de agosto, oito de dezembro e trinta e um de dezembro, pois juntamente com todos seus filhos terrenos ou não terrenos, pretende auxiliar no despertar daqueles que ainda não acordaram, e muitos menos se levantaram para cumprir com seus propósitos e missões.
Ao pôr do sol, se despediram, porém antes Iemanjá e os seus convidados, vibraram com o amor e cura junto ao Universo. Passado algum tempo tudo voltou a ser apenas o mundo manifestado de antes. Voltamos também ao nosso estado físico, mas ao olharmos um no olho do outro, nos reconhecemos e muito felizes nos levantamos. De mãos dadas, saímos a caminhar, com nossos corações em puro agradecimento. Em um gesto surpreendente, ele se ajoelhou e tirou um pequeno objeto de seu bolso.
— Aceita ser minha companheira nesta jornada, nesta e em todas as outras vidas que virão?
Emocionada e radiante, aceitei. Era o início de uma nova jornada juntos, permeada por amor, espiritualidade e a magia dos planos mais sutis da existência. Com essa promessa, o céu se iluminou ainda mais, como uma benção para essa nova fase que se iniciava.

7

Relato de uma Velha Folhinha
Imagine se uma folha pudesse falar... Aqui está a história que ela nos contaria, um relato sobre o tempo, a gratidão e o amor. Que possamos aprender com a sabedoria da natureza.
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Essa foto é minha! Pode até parecer que sou apenas uma folha velha, arqueada pelo tempo, mas houve um dia em que fui nova, verdinha e pequena. Com o passar das estações, ganhei força, cresci e me tornei parte do todo, firme e confiante.
Ao longo desse tempo, eu pouco percebia a sua passagem, achando que minha força duraria para sempre. Mas a vida, com sua sabedoria, me mostrou o quanto sou vulnerável – por dentro e por fora. Os anos foram deixando suas marcas, e, de repente, sem que eu realmente me desse conta, vi que meu tempo de vida havia passado. Foi então que percebi o quão breve e preciosa a vida é.
Frágil e sem forças para me manter onde antes eu me sentia protegida, deixei-me cair. Mas, ao tocar o chão, ainda encontrei forças para, ajoelhada, agradecer a dádiva de Deus. Ele me concedeu a oportunidade de existir, de aprender, de ser parte de algo maior. Tantas lições me acompanharam ao longo desse caminho, cada uma delas me preparando para o momento de deixar ir.
E ao meu lado, muitas outras folhas caíram também. Sei que, um dia, nos reencontraremos, pois sinto que todas nós fazemos parte de uma consciência maior, unidas em propósito e amor.
O que desejo deixar, neste último sopro de existência, é uma mensagem simples, mas essencial: vibrem amor, paz, alegria, bondade, caridade e gratidão. Tudo o que oferecemos ao mundo retorna a nós de alguma forma. Vibrar amor nos enche de vida, nos faz respirar profundamente e sentir que estamos fazendo o bem – para nós e para todos os seres deste planeta.

8

A Magia do Natal na Casa de Madame Min
Era véspera de Natal, e a casa de Madame Min estava mais radiante do que nunca. As paredes de pedra, aquecidas pelo fogo da lareira, refletiam o brilho dourado das velas e os enfeites cintilantes que cobriam as mesas.
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O cheiro doce de especiarias e pinheiros perfumava o ar, e a música suave de um piano antigo preenchia o ambiente, como se fosse um encantamento. Uma atmosfera de pura magia pairava no ar, e Madame Min, com seu sorriso travesso, sabia que aquela noite seria diferente de todas as outras.
Ela preparava algo especial. Em sua casa, o Natal sempre foi uma época de celebração, mas naquele ano, decidiu criar algo ainda mais grandioso. Convidou amigos muito especiais, personagens que, ao longo dos anos, conquistaram corações ao redor do mundo. Mas havia um pedido inusitado: todos deveriam trazer algo muito particular, um sentimento oposto ao que normalmente os caracterizava. Madame Min acreditava que a mistura desses sentimentos criaria uma magia transformadora.
Na véspera da festa, ela sentou-se em sua poltrona de veludo, rodeada por velas cintilantes, e escreveu cuidadosamente os convites encantados. As palavras flutuavam de sua pena e se materializavam em papéis dourados, prontos para serem entregues aos convidados.
Na manhã seguinte, os convidados começaram a chegar.
Margarida foi a primeira. Elegante como sempre, com seu vestido vermelho e branco, ela trouxe algo que não era comum para ela: generosidade. Conhecida por sua vaidade, Margarida sabia que esse era seu maior desafio. "Bem-vinda, Margarida," disse Madame Min, recebendo-a com um sorriso.
Logo depois veio Tio Patinhas, trazendo um saco pesado de moedas. Mas, naquela noite, dentro de seu coração, ele carregava solidariedade. "Esta noite será uma verdadeira lição para mim," murmurou, enquanto colocava seu presente no centro da sala.
Donald, com seu temperamento explosivo, entrou trazendo paciência. Era algo difícil para ele, mas o espírito natalino o inspirou a tentar.
Mickey e Minnie, sempre carismáticos, chegaram juntos, trazendo humildade, prontos para aprender e compartilhar sua sabedoria com os outros.
Zé Carioca, o descontraído, trouxe consigo seriedade. "Hoje vou deixar as piadas de lado e refletir sobre o verdadeiro significado do Natal," disse ele, entrando com um sorriso tímido.
Já Professor Pardal, com sua genialidade excêntrica, decidiu trazer simpatia, uma virtude que raramente colocava em prática.
Pateta, com seu jeito atrapalhado, trouxe disciplina. Ele sabia que essa qualidade poderia ajudá-lo a crescer.
Olívia Palito, sempre tão preocupada com os outros, trouxe algo inesperado: autocuidado. Era uma lição importante para alguém que sempre colocava os outros em primeiro lugar.
Por fim, Maga Patalójika, com relutância, trouxe perdão. Mesmo que não fosse fã de celebrações, sentiu-se tocada pela magia da noite.
Quando todos já estavam acomodados, a porta se abriu novamente, revelando duas novas figuras: Pluto e Popeye.
Pluto, com sua lealdade inabalável, trouxe autonomia, disposto a provar que também podia ser independente.
Popeye, o marinheiro destemido, trouxe algo que nunca imaginou carregar: delicadeza. "Às vezes, a maior força está na gentileza," disse ele, com seu famoso cachimbo no canto da boca.
Com todos os convidados reunidos, Madame Min conduziu-os ao grande caldeirão central. Um a um, eles colocaram seus sentimentos dentro do caldeirão. Margarida com sua generosidade, Tio Patinhas com sua solidariedade, Donald com sua paciência, Mickey e Minnie com sua humildade, Zé Carioca com sua seriedade, Pardal com sua simpatia, Pateta com sua disciplina, Olívia com seu autocuidado, Maga com seu perdão, Pluto com sua autonomia e Popeye com sua delicadeza.
Assim que os ingredientes começaram a borbulhar, uma explosão de luzes iluminou a sala. As cores vibraram no ar, e uma onda de calor e amor tomou conta de todos. Eles sentiram, de repente, como se o amor estivesse em cada um deles, ligando-os de forma inexplicável. Cada um sentiu a transformação interior. O calor da compaixão, da paciência, da solidariedade, da humildade, da simpatia, do autocuidado, da autonomia, da delicadeza e do perdão os envolvia como um manto.
Quando finalmente todos provaram o prato principal, um sentimento indescritível os tomou. Eles estavam mais leves, mais felizes. Eles sorriram, e as risadas preencheram a sala. Abraços foram trocados, e a alegria do momento se espalhou. O Natal, aquele Natal, era verdadeiramente diferente.
Madame Min olhou para seus amigos e disse: “Essa luz, essa felicidade, essa união que sentimos... lembrem-se, ela não acaba aqui. Leve-a consigo. E, como o kefir, ela crescerá e se multiplicará à medida que a doarem. Espalhem o bem, espalhem o amor.”
Todos aplaudiram, abraçaram-se e brindaram à magia daquela noite inesquecível.
Quando a festa terminou, cada um dos convidados saiu da casa de Madame Min transformado, com o coração mais leve e o espírito renovado. Lá fora, as estrelas brilhavam intensamente, como se o Universo também celebrasse aquela união tão especial.
E assim, espalhando amor e magia, eles partiram, prontos para transformar o mundo com o que aprenderam naquela noite.
E viva o Natal! E viva a Vida!
Eliana Bauman

9

Uma História de Coragem e Amor
Era uma manhã calma à beira de um lago cristalino, onde o reflexo do céu azul se misturava ao brilho suave da água. Azul, um peixe de escamas reluzentes que cintilavam como safiras sob o sol, nadava despreocupado perto da margem.
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Ele era conhecido por sua beleza e agilidade, mas poucos sabiam da solidão que carregava no coração. Azul passava os dias admirado por outros peixes, mas raramente encontrava alguém com quem pudesse dividir seus pensamentos mais profundos.
Na margem, um sapo de aparência modesta, chamado apenas de Sapo, observava o lago. Ele não tinha o brilho das escamas de Azul nem chamava atenção dos outros animais, mas seu olhar era atento e seu coração, generoso. Sapo apreciava as pequenas coisas: o som da água, o calor do sol e os mistérios do mundo submerso.
Um dia, enquanto Azul nadava perto da margem, Sapo chamou sua atenção com uma melodia peculiar que cantava para si mesmo. Curioso, Azul se aproximou.
— Que som é esse? — perguntou Azul, intrigado.
Sapo, surpreso pela presença do peixe brilhante, respondeu tímido:
— É só uma música que inventei. Gosto de cantar para me sentir menos sozinho.
Azul sorriu.
— Você também se sente sozinho?
— Às vezes — admitiu Sapo, um pouco envergonhado. — Mas o lago sempre me faz companhia.
Azul e Sapo começaram a conversar. A princípio, eram apenas histórias sobre o lago, sobre o brilho do sol e a quietude da noite. Mas, aos poucos, suas conversas se tornaram mais profundas. Sapo falava de seus sonhos de explorar além das margens, e Azul confidenciava como, apesar de sua beleza, sentia-se incompreendido.
Dias se passaram, e os dois se tornaram inseparáveis. Azul mostrava a Sapo os segredos do fundo do lago, e Sapo ensinava Azul a observar as estrelas e a ouvir o canto dos grilos à noite. No entanto, nem tudo era fácil. Outros peixes e sapos começaram a notar a amizade incomum.
— Um peixe e um sapo? Isso é estranho! — diziam alguns.
— Vocês são tão diferentes. Isso não vai dar certo! — provocavam outros.
Azul e Sapo tentavam ignorar os comentários, mas, no fundo, sentiam o peso do preconceito. Apesar disso, o que sentiam um pelo outro crescia a cada dia. Não era apenas amizade; era algo mais forte, algo que desafiava a lógica do lago e das margens.
Uma tarde, enquanto o sol se punha e o céu se tingia de dourado, Azul olhou para Sapo e disse:
— Por que não fugimos para o lado mais profundo do lago? Lá ninguém nos julgará, e podemos viver do jeito que quisermos.
Sapo pensou por um momento e respondeu:
— Eu não quero fugir. Quero mostrar ao mundo que o amor não se define pelas diferenças, mas pela conexão que sentimos.
Foi então que eles decidiram enfrentar os olhares e comentários. No fundo do lago, realizaram uma cerimônia simples, onde os amigos mais próximos — aqueles que acreditavam no amor deles — se reuniram para celebrar a união. Peixes coloridos nadaram em círculos, criando um espetáculo de luz e cor, enquanto os sapos cantavam com suas vozes roucas, mas cheias de alegria.
A vida continuou, e Azul e Sapo mostraram que o amor deles era forte o suficiente para resistir a qualquer correnteza. Com o tempo, o lago deixou de lado as diferenças, e sua história se tornou uma lenda passada de geração em geração.
Moral da história: O amor verdadeiro não se limita por formas, cores ou espécies. Ele floresce na coragem de aceitar o outro e lutar contra as adversidades.

10

O Guardião da Luz Interior
Em uma aldeia cercada por montanhas e rios tranquilos, vivia um jovem chamado Elian. Ele carregava dentro de si uma inquietação que não sabia nomear.
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Sentia-se perdido, como se algo vital estivesse adormecido em seu ser. Certo dia, ao caminhar pela floresta, encontrou um ancião sentado à sombra de uma figueira, seus olhos brilhando como estrelas.
— O que busca, jovem? — perguntou o velho, sua voz suave como o vento.
— Não sei ao certo — respondeu Elian, hesitante. — Talvez, uma direção... um propósito.
O ancião sorriu e entregou-lhe um pequeno espelho.
— Dentro de você há uma luz. Cultivá-la é a sua jornada. Comece com a bondade. Quando enxergar o reflexo de atos altruístas no mundo, sentirá sua luz crescer.
Curioso, Elian aceitou o desafio. Ele começou a ajudar as pessoas da aldeia: trouxe água para uma idosa, ouviu as histórias de uma criança solitária, compartilhou o pão que tinha com os viajantes. Em cada ato, sua alma parecia aquecer-se.
Um dia, encontrou um homem à beira do rio, em lágrimas. Elian aproximou-se e, em silêncio, escutou sua dor. Ali, compreendeu a força da empatia — o simples ato de estar presente para outro coração.
Enquanto a jornada prosseguia, Elian enfrentou desafios. Houve momentos em que a dúvida e o medo tentaram apagá-lo, mas ele encontrou coragem em uma chama interna que não permitia ser extinta.
— A honestidade é o próximo passo — disse o ancião em um reencontro. — Seja verdadeiro consigo mesmo.
Foi difícil para Elian admitir seus erros e fraquezas. Pediu perdão por feridas que havia causado e, principalmente, perdoou-se por não ter compreendido antes o que agora começava a florescer. A honestidade abriu espaço para a gratidão.
Certa manhã, enquanto contemplava o nascer do sol, Elian sentiu-se preenchido por um profundo amor. Não era apenas por ele mesmo, mas por tudo e todos ao seu redor. Percebeu que as montanhas, o rio, as pessoas, as estrelas... todos compartilhavam da mesma essência luminosa.
O ancião o encontrou uma última vez.
— O que encontrou em sua jornada?
— O amor, — respondeu Elian, emocionado. — Ele é a chave de tudo. Com ele, compreendi que cada momento foi necessário para chegar aqui.
O velho sorriu, desaparecendo como um raio de luz ao meio-dia.
Elian tornou-se o Guardião da Luz Interior, espalhando a mensagem de que cultivar virtudes é o caminho para transformar o mundo. A bondade, a coragem, a gratidão, e, acima de tudo, o amor, eram os pilares de sua nova vida.
E assim, a aldeia prosperou, iluminada por cada alma que decidiu seguir o exemplo de Elian, abraçando o lado luminoso dentro de si.

11

A Transformação de Gabriel
Era uma tarde fria quando Alice, uma mulher de olhar sereno e presença marcante, cruzou com Gabriel pela primeira vez.
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Ele estava sentado em uma calçada movimentada, com os olhos perdidos, segurando um velho livro de filosofia desgastado pelo tempo. O contraste entre sua condição e o livro chamou sua atenção.
— É um bom autor — comentou Alice, parando ao lado dele.
Gabriel levantou o olhar, surpreso.
— Já leu? — perguntou, erguendo o livro.
— Li, sim. Gosto de filosofia. Parece que você também.
Ele deu um leve sorriso, o primeiro em dias.
Naquele dia, os dois conversaram por horas. Alice descobriu que Gabriel tinha sido um professor universitário, apaixonado por filosofia e pela busca de respostas sobre a existência. No entanto, após perder o emprego e sua família devido à dependência química, ele foi consumido por uma espiral de dor e abandono, acabando nas ruas.
Alice, que trabalhava em uma instituição de renome voltada à educação, viu em Gabriel não apenas um homem perdido, mas uma alma rica em experiências e sabedoria, sufocada pelas adversidades da vida. Decidiu ajudá-lo.
A partir daquele encontro, Alice passou a visitá-lo com frequência. Levava comida, roupas e, principalmente, tempo e ouvidos. Ela o incentivava a revisitar sua paixão pela filosofia e a refletir sobre o que o levara àquela situação.
— A dor que você sente não define quem você é, Gabriel. Ela pode ser o solo para algo novo florescer, se você permitir — disse ela certa vez.
Aos poucos, Gabriel começou a acreditar. Com a ajuda de Alice, conseguiu vaga em uma clínica de reabilitação. Durante o tratamento, redescobriu o poder curativo da arte e da filosofia. Escrevia reflexões, pintava, esculpia. Cada criação era um passo para longe da escuridão.
Meses depois, recuperado, Gabriel teve uma ideia. Inspirado pelo apoio de Alice, decidiu dedicar sua vida a ajudar outros como ele. Assim nasceu a ONG "Luz e Caminho", um projeto que oferecia abrigo, alimentação e oportunidades de aprendizado para pessoas em situação de rua.
O espaço que Gabriel criou era mais do que um abrigo; era um lugar de transformação. Ali, os moradores cultivavam hortas, criavam peças de arte, aprendiam filosofia e espiritualidade. A conexão com a terra, a arte e o pensamento os ajudava a se reconectar com suas próprias essências.
A cada história de superação, a força da ONG crescia. Muitos voltavam para suas famílias, curados e agradecidos. Outros permaneciam, como Gabriel, dedicando suas vidas a levar a mesma luz para mais pessoas.
Anos depois, em uma das cerimônias da ONG, Gabriel olhou para Alice, que continuava ao seu lado como amiga e mentora.
— Você salvou minha vida, Alice — disse ele.
— Não, Gabriel. Você salvou a sua vida. Eu só apontei a direção — respondeu ela, emocionada.
A ONG "Luz e Caminho" tornou-se um exemplo de esperança na cidade, lembrando a todos que, com empatia, apoio e propósito, é possível transformar não apenas a própria vida, mas também a de muitos outros. E Gabriel, agora um líder reconhecido, sabia que sua maior conquista não era apenas ajudar, mas reacender a chama de humanidade que havia dentro de cada alma que cruzava seu caminho.

12

Racismo & Preconceito
Tudo era negro na alma do branco…
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Ele andava pelas ruas de uma cidade que insistia em pintar de cinza o colorido natural das pessoas. Tudo era negro na alma do branco. Pois o racismo e preconceito grudados nele estavam, como manchas que o tempo e a história não conseguiam apagar.
A vida trazia argumentos, em forma de vozes caladas e olhares desviados. Ele, tão cabeça dura, preferia não ver, não sentir. A sua bolha de privilégio era confortável demais para ser estourada. A dor do outro era um sussurro distante, abafado pelas paredes de sua própria ignorância.
Mas a vida é persistente. Ela tem uma forma peculiar de nos empurrar, de nos forçar a encarar o que evitamos. Dores no peito, nos ossos, nos dentes teimavam como alertas para seu despertar. Cada suspiro era um grito silencioso das injustiças cometidas, um eco da resistência negra que jamais se calou.
Na escola, na praça, no trabalho, as histórias de luta e sofrimento eram sempre menosprezadas, tratadas como exagero ou passado distante. Porém, ele não podia mais ignorar as cicatrizes profundas deixadas pelo racismo arraigado. Eram marcas vivas na pele, na alma, na história de um povo que, dia após dia, ergue-se contra a opressão.
A resistência negra é um ato de amor e coragem. É o grito de um povo que se recusa a ser silenciado, que se levanta, mesmo quando o mundo insiste em derrubá-lo. É a mãe que ensina ao filho sobre a dignidade de suas raízes, é o jovem que ocupa os espaços que lhes foram negados, é o idoso que carrega no olhar as memórias de um tempo em que ser negro era sinônimo de subjugação, mas que nunca aceitou essa condição como irrevogável.
Ele, que antes fechava os olhos, agora os abria lentamente, como quem desperta de um longo e profundo sono. A realidade era dura, mas inegável. O racismo não era um monstro de histórias antigas, mas uma sombra presente, que se alimentava do silêncio e da indiferença.
Cada passo que dava, cada notícia que lia, cada conversa que ouvia, eram como tijolos sendo retirados de um muro que ele mesmo ajudara a construir. O muro da ignorância, da intolerância, do medo e da falta de aceitação. E ali, nas brechas que surgiam, ele começava a enxergar a beleza da diversidade, a riqueza da pluralidade, a necessidade urgente de justiça e igualdade.
Na alma do branco, havia ainda muito a ser trabalhado, desconstruído e reconstruído. Mas aquele despertar era o início de um caminho sem volta. Um caminho que exigiria humildade para reconhecer os erros, coragem para enfrentá-los e empatia para nunca mais fechar os olhos.
A resistência negra não é apenas uma luta de um povo, mas um chamado à humanidade. Um lembrete de que somos todos responsáveis pela construção de um mundo mais justo e respeitoso, onde a cor da pele não seja um fardo, mas uma celebração de nossa infinita diversidade. Pois só assim, quando todos enxergarmos com clareza, poderemos, enfim, dizer que vivemos em uma sociedade verdadeiramente igualitária.
Tudo era negro na alma do branco. E, talvez, ao final de sua jornada, ele compreendesse que esse negro era, na verdade, a sombra de sua própria ignorância. Uma sombra que, ao ser iluminada pelo conhecimento, pelo amor e pela compaixão, se dissiparia, revelando a beleza do que somos quando, finalmente, nos aceitamos e respeitamos uns aos outros em toda nossa complexa humanidade.
Eliana Bauman
13/06/2024

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A Busca pela Felicidade e o Medo de Viver
Vivemos em um mundo onde o medo parece ser o motor que impulsiona muitas de nossas ações.
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Medo de não ser feliz, medo de não alcançar aquilo que tanto almejamos, medo de não sermos reconhecidos, medo de não existir. E, por trás desse medo, está a busca incessante pela felicidade, como se ela fosse algo tangível, a ser comprado, conquistado ou encontrado em algum lugar distante.
Por medo de não ser feliz, muitas pessoas passam a vida tentando ganhar muito dinheiro, acreditando que a felicidade está lá, em uma conta bancária recheada, em status, em bens materiais. Mas o que elas não percebem é que a verdadeira felicidade não está à venda. Ela se esconde nas pequenas coisas: no sorriso de um amigo, no abraço de um ente querido, no silêncio de uma tarde ensolarada, nas pequenas vitórias do cotidiano. No entanto, o medo de não ser feliz as impede de ver isso, e o que é mais triste, as afasta de um modo de viver que poderia, de fato, ser pleno e satisfatório.
O medo de viver também se faz presente. Muitas vezes, ele se disfarça em uma necessidade de imitar a vida dos outros. As redes sociais, com sua constante exibição do que é "perfeito", reforçam essa busca por uma vida que não é a nossa. Nos esquecemos de que somos seres únicos e que a verdadeira beleza da vida está em vivê-la de acordo com nossas próprias escolhas, com nossos próprios erros e acertos. Mas, por medo de errar, muitos preferem viver as histórias de outros, imitando vidas que nunca serão as suas, e, assim, perdem a oportunidade de construir a própria história.
Por medo de sofrer, muitas pessoas acabam fazendo com que outros sofram. Tornam-se prisioneiras de seus próprios medos, projetando neles um reflexo distorcido do que é viver. O medo de enfrentar a dor, de se arriscar, de se entregar ao amor ou até mesmo ao fracasso, leva muitas vezes à indiferença, à crueldade ou à manipulação. E, em vez de buscar soluções para aliviar o sofrimento, acabam criando mais problemas, mais conflitos, mais distâncias. O medo não apenas as impede de crescer, mas também as afasta da verdadeira conexão humana.
E talvez o medo mais profundo de todos seja o medo da morte. Por não saber o que acontece depois que a vida física chega ao fim, muitos escolhem viver sem espiritualidade, tentando negar o que não podem entender ou controlar. Vivem suas vidas como se o fim fosse o fim de tudo, e assim, se concentram apenas no agora, em uma busca constante por prazer e gratificação imediata. Mas, ao fazer isso, eles se perdem daquilo que poderia dar sentido à existência: a conexão com algo maior, a sensação de pertencimento a um universo que vai além da matéria, a crença de que, talvez, a vida não termine com o último suspiro.
O paradoxo é que, ao tentar evitar o sofrimento e o medo, muitos acabam criando mais sofrimento para si mesmos. A vida não é uma corrida para acumular riquezas ou status, nem uma competição para viver a vida dos outros. A verdadeira felicidade, a verdadeira paz, está em aprender a viver com os próprios medos, a se permitir ser imperfeito, a ver beleza nas pequenas coisas e a confiar que, sim, há algo além de nós.
Por que, então, continuar vivendo com tanto medo? O medo é natural, mas ele não precisa ser o guia da nossa vida. Talvez, ao aprendermos a enfrentar nossos medos de frente, possamos finalmente enxergar o que realmente importa. A felicidade não está nas coisas externas, mas dentro de nós, em cada momento vivido com autenticidade, em cada conexão verdadeira, em cada pequeno gesto de amor e compreensão.
Se pudermos aprender a olhar para a vida com mais coragem, menos medo e mais abertura para o desconhecido, talvez encontremos a paz que tanto buscamos. Afinal, a vida é curta demais para ser vivida com tanto medo. Quem sabe, ao deixar os medos de lado, possamos finalmente entender o verdadeiro significado de existir.
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